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Não há vagas.
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Não há vagas.
Por Mayara Moraes, em Amsterdã - para CARTA CAPITAL
A Holanda é o lugar mais seguro do planeta para pedalar. O país tem praticamente uma bicicleta para cada um dos 16,7 milhões de habitantes, dos quais 10 milhões estão habilitados a dirigir uma frota de “apenas” 7 milhões de automóveis. Em cada duas pessoas que deixam suas casas em direção às escolas ou universidades, uma segue de bicicleta. Mais: um em cada quatro holandeses vai para o trabalho pedalando. São 29 mil quilômetros de ciclovias ou ciclofaixas, de acordo com a União Nacional dos Ciclistas. Como comparação, a cidade de São Paulo, com 11,2 milhões de habitantes, tem 182,6 quilômetros de faixas exclusivas, 0,62% da capacidade holandesa.
Mas o domínio das bicicletas, iniciado em 1973 por causa da crise do petróleo, começa a dar sinais de esgotamento. Em muitas cidades, a quantidade de bicicletas supera o número de habitantes. Em Amsterdã, elas estão estacionadas em todos os cantos, e um exemplo da saturação é o fato de os dois megaestacionamentos construídos nas proximidades da estação central de trem – um com capacidade para abrigar 1,2 mil bikes e outro, de três andares flutuantes, com 2,5 mil vagas – já não darem mais conta da demanda. Até mesmo um barco na mesma região foi adaptado para socorrer os ciclistas. Ele abriga 400 bicicletas no seu interior e não tem mais espaço. Alguns estacionamentos, como o do mercado de ações Beurs van Berlage, com 1,1 mil vagas, são construídos debaixo da terra.
A falta de espaço leva muitos ciclistas a deixarem suas bicicletas em locais privados, mediante o pagamento de uma mensalidade. Outros colocam as bicicletas em espécies de caixotes disponibilizados pelo governo, que cobra uma taxa anual. Cada “caixa” abriga até cinco bicicletas.
Ainda assim, a competição é tão dura que os ciclistas, numa espécie de “jeitinho holandês”,,muitas vezes optam por estacionar em lugares proibidos, o que levou as autoridades a recolherem 800 bicicletas de infratores nos três primeiros meses do ano.
Segundo estudos locais, Amsterdã tem hoje um déficit de 100 mil vagas para bicicletas. Em tempos de crise econômica, a busca por espaço tem ficado cada vez mais cara. Só o projeto no subterrâneo da estação de trem da capital está avaliado em 700 mil euros. Para solucionar o impasse, o engenheiro Matthijs Griffioenm começou a estudar opções para o problema. Concluiu que a saída não estava nem sobre nem sob a terra, mas no ar.
Griffioenm desenhou um modelo de elevador que transporta as “magrelas” até o telhado das construções. O transporte seria acionado por meio de um bilhete magnético. Um painel eletrônico avisaria a cada segundo o número de vagas disponíveis. O projeto prevê ainda a instalação de painéis solares para minimizar os custos de energia com os elevadores. A ideia é um tanto futurista, admite Griffioenm, mas viável: a tecnologia é a mesma usada nos estacionamentos embaixo da terra e o custo da construção sai por quase a metade, cerca de 4 mil euros por vaga.
Enquanto as soluções inovadoras não aparecem, os usuários continuam a se virar como podem, em terra ou no subterrâneo. E seguirão a pressionar as autoridades a encaminhar soluções.
É o caso de Utrecht, a 40 quilômetros da capital, onde ferrovias, pontos de ônibus e importantes edifícios têm sido readaptados para receber bicicletas. O objetivo, explica Anita Drix, responsável pelas reformas, é criar 22,2 mil novas vagas na região central, onde fica a estação de trem. O custo estimado das construções é de 52 milhões de euros.
O projeto piloto exigirá, segundo Drix, uma mudança de cultura. “Ele garante economia de espaço e de tempo e facilidades à população.” Caso o plano obtenha sucesso, será também implementado em Roterdã e Haia, cidades que igualmente sofrem com a falta de espaço, além da capital.
Parte do custo da manutenção pelo serviço, avaliado em 6 milhões de euros anuais, será paga pelo governo, mas a outra parte deverá ser cobrada dos usuários. O valor exato ainda não foi definido, mas poderá ser de até 1,50 euro por dia.
Apenas 30% dos estacionamentos na Holanda são pagos. Os primeiros surgiram há cerca de dez anos. A provável ampliação da cobrança provoca reações. A estudante de jornalismo Kim Holla, por exemplo, refaz as contas sobre as vantagens de se deslocar por meio de bicicletas. “Eu moro em Amsterdã, estudo em Ede e trabalho em Utrecht. Tenho uma bicicleta em cada estação. Pagar por isso sairia muito caro para mim.” Ela prevê que, se tiverem de pagar para estacionar, muitos usuários vão migrar para outras formas de transporte.
Miriam van Bree, da União Nacional de Ciclistas da Holanda, alerta: “Temos de pensar em soluções melhores. Por que não colocar as bicicletas umas em cima das outras? O número de bicicletas próximas das estações não para de crescer, é bom pensar onde elas serão colocadas, não dá para fechar os olhos para um problema que deve se intensificar”.
Apesar das dificuldades, a ativista diz que criar opções à bicicleta não é a melhor solução. O próprio histórico sobre rodas da Holanda ensina: desde que as primeiras ciclovias foram construídas, o número anual de mortes de crianças no trânsito caiu de 400, em 1971, para 14, em 2010. Não é por menos: além dos espaços adequados, os jovens têm desde cedo aulas teóricas e práticas de trânsito.
Para Bree, as bicicletas são, definitivamente, a solução para o intenso tráfego nas metrópoles: “As cidades estão crescendo cada vez mais e, se quisermos ter um sistema fluido, é preciso tirar os indivíduos dos carros”.
Link para o texto original: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/nao-ha-vagas/
A Holanda é o lugar mais seguro do planeta para pedalar. O país tem praticamente uma bicicleta para cada um dos 16,7 milhões de habitantes, dos quais 10 milhões estão habilitados a dirigir uma frota de “apenas” 7 milhões de automóveis. Em cada duas pessoas que deixam suas casas em direção às escolas ou universidades, uma segue de bicicleta. Mais: um em cada quatro holandeses vai para o trabalho pedalando. São 29 mil quilômetros de ciclovias ou ciclofaixas, de acordo com a União Nacional dos Ciclistas. Como comparação, a cidade de São Paulo, com 11,2 milhões de habitantes, tem 182,6 quilômetros de faixas exclusivas, 0,62% da capacidade holandesa.
Mas o domínio das bicicletas, iniciado em 1973 por causa da crise do petróleo, começa a dar sinais de esgotamento. Em muitas cidades, a quantidade de bicicletas supera o número de habitantes. Em Amsterdã, elas estão estacionadas em todos os cantos, e um exemplo da saturação é o fato de os dois megaestacionamentos construídos nas proximidades da estação central de trem – um com capacidade para abrigar 1,2 mil bikes e outro, de três andares flutuantes, com 2,5 mil vagas – já não darem mais conta da demanda. Até mesmo um barco na mesma região foi adaptado para socorrer os ciclistas. Ele abriga 400 bicicletas no seu interior e não tem mais espaço. Alguns estacionamentos, como o do mercado de ações Beurs van Berlage, com 1,1 mil vagas, são construídos debaixo da terra.
A falta de espaço leva muitos ciclistas a deixarem suas bicicletas em locais privados, mediante o pagamento de uma mensalidade. Outros colocam as bicicletas em espécies de caixotes disponibilizados pelo governo, que cobra uma taxa anual. Cada “caixa” abriga até cinco bicicletas.
Ainda assim, a competição é tão dura que os ciclistas, numa espécie de “jeitinho holandês”,,muitas vezes optam por estacionar em lugares proibidos, o que levou as autoridades a recolherem 800 bicicletas de infratores nos três primeiros meses do ano.
Segundo estudos locais, Amsterdã tem hoje um déficit de 100 mil vagas para bicicletas. Em tempos de crise econômica, a busca por espaço tem ficado cada vez mais cara. Só o projeto no subterrâneo da estação de trem da capital está avaliado em 700 mil euros. Para solucionar o impasse, o engenheiro Matthijs Griffioenm começou a estudar opções para o problema. Concluiu que a saída não estava nem sobre nem sob a terra, mas no ar.
Griffioenm desenhou um modelo de elevador que transporta as “magrelas” até o telhado das construções. O transporte seria acionado por meio de um bilhete magnético. Um painel eletrônico avisaria a cada segundo o número de vagas disponíveis. O projeto prevê ainda a instalação de painéis solares para minimizar os custos de energia com os elevadores. A ideia é um tanto futurista, admite Griffioenm, mas viável: a tecnologia é a mesma usada nos estacionamentos embaixo da terra e o custo da construção sai por quase a metade, cerca de 4 mil euros por vaga.
Enquanto as soluções inovadoras não aparecem, os usuários continuam a se virar como podem, em terra ou no subterrâneo. E seguirão a pressionar as autoridades a encaminhar soluções.
É o caso de Utrecht, a 40 quilômetros da capital, onde ferrovias, pontos de ônibus e importantes edifícios têm sido readaptados para receber bicicletas. O objetivo, explica Anita Drix, responsável pelas reformas, é criar 22,2 mil novas vagas na região central, onde fica a estação de trem. O custo estimado das construções é de 52 milhões de euros.
O projeto piloto exigirá, segundo Drix, uma mudança de cultura. “Ele garante economia de espaço e de tempo e facilidades à população.” Caso o plano obtenha sucesso, será também implementado em Roterdã e Haia, cidades que igualmente sofrem com a falta de espaço, além da capital.
Parte do custo da manutenção pelo serviço, avaliado em 6 milhões de euros anuais, será paga pelo governo, mas a outra parte deverá ser cobrada dos usuários. O valor exato ainda não foi definido, mas poderá ser de até 1,50 euro por dia.
Apenas 30% dos estacionamentos na Holanda são pagos. Os primeiros surgiram há cerca de dez anos. A provável ampliação da cobrança provoca reações. A estudante de jornalismo Kim Holla, por exemplo, refaz as contas sobre as vantagens de se deslocar por meio de bicicletas. “Eu moro em Amsterdã, estudo em Ede e trabalho em Utrecht. Tenho uma bicicleta em cada estação. Pagar por isso sairia muito caro para mim.” Ela prevê que, se tiverem de pagar para estacionar, muitos usuários vão migrar para outras formas de transporte.
Miriam van Bree, da União Nacional de Ciclistas da Holanda, alerta: “Temos de pensar em soluções melhores. Por que não colocar as bicicletas umas em cima das outras? O número de bicicletas próximas das estações não para de crescer, é bom pensar onde elas serão colocadas, não dá para fechar os olhos para um problema que deve se intensificar”.
Apesar das dificuldades, a ativista diz que criar opções à bicicleta não é a melhor solução. O próprio histórico sobre rodas da Holanda ensina: desde que as primeiras ciclovias foram construídas, o número anual de mortes de crianças no trânsito caiu de 400, em 1971, para 14, em 2010. Não é por menos: além dos espaços adequados, os jovens têm desde cedo aulas teóricas e práticas de trânsito.
Para Bree, as bicicletas são, definitivamente, a solução para o intenso tráfego nas metrópoles: “As cidades estão crescendo cada vez mais e, se quisermos ter um sistema fluido, é preciso tirar os indivíduos dos carros”.
Link para o texto original: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/nao-ha-vagas/
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